Coluna Especial

Agro avança na TV, mas ainda luta contra preconceito

Na semana em que o Globo Rural completa 41 anos no ar, Fernando Morgado fala sobre o espaço que a televisão brasileira dedica ao campo


Apresentadores Helen Martins e Nélson Araújo sorrindo no cenário do Globo Rural
Globo Rural comemora 41 anos no ar nesta quarta-feira (06) - Foto: Divulgação

Nesta quarta-feira, 6 de janeiro de 2021, o Globo Rural completa seu 41º aniversário. No início, houve quem pensasse que o jornalístico não duraria dois meses. Certamente foram os mesmos que, com sarcasmo, apelidaram o programa de Mandioca News. Mas o Globo Rural não só permaneceu no ar como se transformou em um incontestável sucesso de público e crítica. Sua equipe reúne profissionais experientes, a começar por José Hamilton Ribeiro, ícone do jornalismo nacional. Apesar do horário em que é exibido, a atração alcança níveis de audiência e de share dignos de prime time, além de acumular incontáveis prêmios.

A fórmula do sucesso se baseia na combinação equilibrada entre cotações, notícias, oportunidades de negócio, técnicas e, sobretudo, histórias de vida. São estas que despertam a simpatia do telespectador, mesmo aquele que nunca teve a oportunidade de visitar uma fazenda. Trata-se da síntese audiovisual da alma brasileira. É a vitória do profissionalismo sobre a descrença e o preconceito.

Preconceito. Esta é uma praga que insiste em atacar o agronegócio, apesar de toda a sua importância para a economia nacional. Nem a pandemia foi capaz de parar o setor, que seguiu crescendo e gerando riqueza. O Brasil é referência mundial em produção, exportação e tecnologia, registrando marcas impressionantes. Algumas delas são destacadas na campanha "Agro: a indústria-riqueza do Brasil", promovida pela Globo. Impossível ficar indiferente aos vistosos números que surgem na tela. O efeito positivo gerado por essa iniciativa na imagem e, sobretudo, na autoestima dos produtores rurais é incontestável. Mas é preciso ir além.

Agro deve se comunicar melhor com o público geral

Em primeiro lugar, deve-se superar de uma vez por todas a ideia de que a televisão é um meio urbano. Massiva por natureza, a TV tem que servir a todos, inclusive aqueles que trabalham e vivem no campo. A demanda por conteúdo rural é tão grande que, em pleno 2020, surgiram dois novos canais exclusivamente dedicados à esse segmento: o Agro+ e o Canal do Criador. Eles se juntam aos vários outros já existentes, alguns há mais de duas décadas.

Além disso, é preciso que o agro se comunique melhor para "depois da porteira", conforme o jargão empregado no setor. Além dos canais e programas especializados, o campo precisa se embrenhar nas atrações dedicadas ao público em geral. No entretenimento, a música sertaneja já cumpre um papel importante nesse sentido. No jornalismo, ainda há espaço para mais matérias dedicadas ao campo. O salto no preço de uma commodity pode impactar mais a economia brasileira do que muitos indicadores abordados em longas reportagens exibidas por alguns telejornais.

Nos Estados Unidos, a agropecuária está presente das mais diversas formas na televisão, desde os morning shows até os principais noticiários noturnos. Na TV por assinatura, além das emissoras exclusivamente dedicadas ao universo rural, como RDF-TV e The Cowboy Channel, existem canais que abrem expressivo espaço para a cultura nascida no campo, como Destination America, Food Network e Great American Country. Por coincidência, estes três exemplos pertencem à gigante Discovery Inc.

Para continuar a conquistar espaços e vencer preconceitos na televisão, as lideranças do agronegócio têm que se aproximar daqueles que entendem de comunicação, ouvi-los e aplicar suas orientações. O setor já é extremamente eficiente quando fala para si próprio. O sucesso dos programas de ensino a distância são provas disso. Agora, é preciso priorizar a comunicação com os demais setores da sociedade. Somente assim será possível vencer de vez os preconceitos e abrir novos mercados, inclusive no exterior, que, através da mídia, acompanha com atenção tudo aquilo que se passa nas fazendas e florestas brasileiras.


Sobre Fernando Morgado - Consultor e palestrante. Professor das Faculdades Integradas Hélio Alonso. Membro da Academy of Television Arts & Sciences, entidade realizadora dos prêmios Emmy. Coordenador adjunto do Núcleo de Estudos de Rádio da UFRGS. Possui livros lançados no Brasil e no exterior, incluindo Comunicadores S.A. (2019) e o best-seller Silvio Santos - A Trajetória do Mito (5ª edição em 2017). É um dos autores de Covid-19 e Comunicação - Um Guia Prático para Enfrentar a Crise (2020), obra publicada em português, espanhol e inglês. Mestre em Gestão da Economia Criativa e especialista em Gestão Empresarial e Marketing pela ESPM. Site: fernandomorgado.com

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