O vazio após Vale Tudo: entenda a queda de audiência e a carência do público
A queda de audiência após o fim das novelas das 9 revela a mudança no consumo de conteúdo e os desafios da TV aberta frente ao streaming e ao público jovem
Cena da novela Vale Tudo com Odete Roitman - Foto: Reprodução/Globo
O remake de Vale Tudo encerrou sua jornada na última sexta-feira (17), e, a partir de amanhã, Três Graças ocupará a faixa com a missão de manter e conquistar o público do horário nobre. Mas o fim de uma novela das 9 na televisão brasileira, frequentemente, deixa um rastro de saudade no público e, muitas vezes, uma queda de audiência expressiva.
Esse fenômeno pode ser explicado por uma combinação de fatores, que vão desde a mudança no consumo de conteúdo audiovisual até a própria forma como as narrativas televisivas se conectam com o espectador.
Uma das hipóteses mais fortes para o divórcio do público com as novelas da Globo, por exemplo, é a ascensão das plataformas de streaming.
Com uma vasta oferta de produções nacionais e internacionais de alta qualidade, o streaming sacudiu o mercado audiovisual, oferecendo aos espectadores uma gama sem precedentes de opções de ficção televisiva. Nunca se consumiu tanto conteúdo, mas também nunca houve tanta concorrência.
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A Globo, em uma tentativa de se adaptar a essa nova realidade, por vezes tenta "imitar" o ritmo e a estrutura das séries, o que pode causar estranhamento no público mais fiel das novelas. Ritmos acelerados e elencos mais enxutos, características comuns em plataformas de streaming, podem não ressoar com a audiência tradicional das novelas.
Outro ponto crucial é a falta de identificação do público jovem com as narrativas da TV aberta. Para essa faixa etária, "não é 'in' ver TV aberta", e o encanto se perdeu.
O fim de Malhação em 2020, que por anos foi um ponto de conexão com os mais jovens, deixou um vácuo que não foi preenchido por projetos subsequentes.
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A demora em abordar pautas identitárias e a maior representatividade da diversidade, algo que as séries de streaming abraçaram rapidamente, também contribuíram para esse afastamento. Esse público jovem é estratégico, pois representa os futuros espectadores tradicionais e é de grande interesse para os anunciantes.
As mudanças nas novelas atuais
Silvio de Abreu, ex-autor e diretor geral de teledramaturgia da Globo, destacava que a novela tem que se comunicar com o público pela emoção.
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O riso, o choro, a emoção com a atuação dos atores são elementos fundamentais para que o público se apegue à trama e não queira perder um capítulo. A falta de uma comunicação eficaz, tanto por parte dos autores quanto dos atores, pode ser um fator para o declínio da audiência.
A mudança nos métodos de trabalho, com equipes e orçamentos diferentes, e a ascensão de "influencers" em elencos sem a técnica necessária para transmitir emoção também são apontados como desafios.
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"A queda na audiência das novelas das 9 pode ser atribuída ao desempenho insatisfatório das produções, que historicamente representam o principal atrativo da programação. Novelas recentes têm registrado índices abaixo dos recordes negativos de produções anteriores. No entanto, há luz no fim do túnel. A Globo, com seu capital financeiro e talentos, tem o potencial para reverter esse cenário e retomar o diálogo com diversas camadas da sociedade".
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É um novo processo que exige readequação dentro da expectativa emocional que o público tanto deseja. A televisão aberta precisará conviver com a forte concorrência do streaming, que se mostra uma tendência duradoura no consumo de conteúdo audiovisual.
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