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Desejo de jornalistas, vida de correspondente inclui vários perrengues


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Divulgação

Uma pesquisa feita em 2011 pela Fundação Cásper Líbero com jovens jornalistas e estudantes da área na época, apontou que cerca de 62% tinham como desejo máximo na profissão ser correspondente internacional.

Os motivos apontados por eles foram os bons salários e a experiência de morar em outro país, com uma cultura totalmente diferente da nossa. É fato que ser correspondente é uma meta, mas trabalhar como um está bem longe do glamour que o cerca, muito pelo contrário.

Durante a cobertura dos atentados em Paris, há três semanas, Ilze Scamparini, jornalista experiente e que está na Europa fazendo reportagens para a Globo sobre o Vaticano desde 1999, acabou reclamando no ar do cansaço. Isso expôs uma situação até dura dos correspondentes. A maioria destes profissionais acaba atuando em função dupla. Como tem, geralmente, apenas um produtor por trás, os jornalistas acabam se ajudando e também atuam como produtores para a melhor apuração da pauta em questão - orientados pela chefia, que na maioria dos casos fica diretamente da redação no Brasil.

No entanto, alguns jornalistas se desdobram e atuam até em função tripla. Além de produzirem suas próprias reportagens e atuarem como repórteres, eles também filmam suas matérias e enviam o material para o Brasil pela internet, onde a reportagem é editada. Esse expediente é comum, principalmente, em canais esportivos, como ESPN, SporTV e Esporte Interativo.

Na ESPN, o correspondente de Londres, João Castelo Branco, chega até a também editar algumas de suas próprias matérias. Com experiência e o desafio cumpridos, os ex-correspondentes de canais esportivos normalmente voltam com prestígio e espaço.

O caso mais notório é o de Domitila Becker. Ela foi correspondente do SporTV por um ano, em Barcelona, onde filmava, produzia e reportava. Quando voltou, acabou ganhando espaço como apresentadora e hoje é ancora do programa "É Gol", exibido na hora do almoço pelo canal.

Perrengues

A maioria dos correspondentes sempre passa por perrengues, tanto quando vão produzir como quando chega a hora do pagamento. Em tempos de crise, os canais de TV do Brasil estão em contenção de gastos, e manter um correspondente fora do Brasil é relativamente caro.

Muitos ganham em dólar, que é convertido para a moeda local. É assim, por exemplo, que a Globo paga seus correspondentes em todo o mundo. Com a crise econômica no Brasil e o dólar em alta, a rede carioca tem previsto algumas mudanças para janeiro de 2016.

Quatro jornalistas deixarão seus postos em Nova York, Lisboa e Londres, e todos medalhões do jornalismo global: Helter Duarte, André Luiz Azevedo, Renato Machado e Roberto Kovalick. Helter será substituído por Sandra Coutinho, que era da Globo News. Já Kovalick dará lugar a Pedro Vedova, que se muda de Berlim para Londres. Machado, o mais velho de todos, terá suas funções acumuladas por Cecília Malan. André Luiz ainda não teve seu substituto anunciado pela Globo.

Porém, um fato é que todos os substitutos ganham salários menores que os medalhões - cerca de 30% dos antigos jornalistas -, o que ajuda muito em economia, numa época de dólar perto dos 4 reais.

Correspondentes de emissoras menores passam por mais perrengues do que os globais. É o caso de Marcos Clementino, até bem pouco tempo correspondente da RedeTV! em Paris. Marcos foi o principal destaque da cobertura da emissora dos atentados de Paris, quando foi o primeiro jornalista brasileiro a entrar em link diretamente da porta do Stad de France, onde aconteceu uma das explosões.

Calmo e sereno, entrevistou várias pessoas que estavam horrorizadas com o fato, o que lhe deu os maiores elogios nas redes sociais. Marcos, porém, não trabalha mais no canal paulista. Como ganhava em reais, o dinheiro que lhe era pago não era o suficiente para se manter quando convertido em moeda local. Acabou pedindo para sair. No seu lugar, a RedeTV! enviou, com urgência, o correspondente de Los Angeles, Fábio Borges, enquanto o verdadeiro substituto de Marcos, o jornalista Luciano Júnior, que trabalha no Brasil ainda, prepara sua mudança.

O fato é que ser correspondente é a prova máxima do jornalismo: a estrutura não é tão grande e o trabalho é praticamente quadruplicado. Existem seus bônus, mas os ônus precisam ser levados em consideração.

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