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Documento NaTelinha: "Plantão 1-9-0" com Sérgio Dionízio


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Divulgação

O “Documento NT” volta a ser destaque aqui no NaTelinha, trazendo mais uma matéria com programas que fazem sucesso fora do eixo RJ-SP. Dessa vez, nós viajamos até Recife, capital de Pernambuco, para entrevistar o jornalista Sérgio Dionízio, apresentador do programa policial “Plantão 1-9-0”, da TV Jornal, afiliada do SBT no estado. Nesta matéria, tive a colaboração importante de Diogo Cavalcante, principalmente nas fotos.

Chegamos na TV por volta de 11h20. A TV Jornal é interessante, porque suas instalações não contam apenas com a estrutura da TV, e sim com as rádios Jornal e JC/CBN, o Portal NE 10 (parceiro do NaTelinha, inclusive), a redação do Jornal do Commercio, um dos maiores do estado. Somos recebidos por Leonardo, assessor de imprensa da emissora, que nos mostra os estúdios, switchers do jornalismo e todo o Sistema Jornal do Commercio.

Por volta de 11h45, ficamos no estúdio acompanhando os jornalísticos. Primeiro, vemos o “TV Jornal Meio Dia” que neste dia foi ancorado por Lorena Gomes, apresentadora do matinal “TV Jornal Mais”. A titular, Graça Araújo, estava de férias. Logo, Sérgio entra no estúdio e interage com Lorena no começo do programa. Algo que chama a minha atenção e a de Diogo são os merchandisings que o programa tem. Segundo nossas contas, nesta edição que acompanhamos, foram oito inserções comerciais. “Isso porque hoje foram oito propagandas, já chegou a treze”, me disse Dionízio em uma entrevista reveladora e surpreendente.

Outra coisa que me chama a atenção é o conteúdo relativamente mais leve se comparado ao “Cardinot Aqui na Clube” da TV Clube/Record, inclusive com a participação de um assistente de palco, o Bolinho.  O “Plantão 1-9-0” tem médias de 7 pontos, brigando pela vice-liderança com a TV Clube e chegando à liderança várias vezes.

A entrevista acontece por volta de 13h45, depois de seu almoço, no estúdio do programa. Primeiramente, Sérgio me parabeniza pelo meu aniversário, que ocorreu no dia da entrevista. Após, conversamos por cerca de 20 minutos. Confira a íntegra desta entrevista:

NaTelinha – Primeiro, muito obrigado pela entrevista, Sérgio. Pra começar, eu queria saber como você começou na carreira de jornalista, depois de repórter policial e após como apresentador?

Sérgio Dionízio –
Nada disso eu escolhi. Eu entrei na faculdade fazendo publicidade, mas por uma necessidade de trabalho, abandonei o curso. Quando eu voltei, voltei no curso de jornalismo, porque eu achei a turma de jornalismo mais legal, já que eles saiam pra beber e a turma de publicidade não saía. E depois eu descobri que quem fazia publicidade não podia exercer jornalismo, mas o inverso podia. E hoje eu consigo fazer isso, eu trabalho com jornalismo e trabalho com publicidade.

Em jornalismo policial, eu comecei quando terminei de estagiar, porque precisava entrar no mercado, é um conceito que a gente tem, porque estágio é fácil, mas um emprego de carteira assinada é difícil. E o que apareceu pra mim, foi reportagem policial na Rádio Jornal. Eu comecei com reportagem policial e tinha preconceito com televisão, porque não gostava de aparecer. Porém, mais uma vez, por necessidade, porque precisava de um outro emprego, pedi uma vaga na produção da TV, mas só apareceu na reportagem. Inclusive, eu fazia de um jeito fora do padrão de roupa, no modo de falar e tal. Achei que fosse me atrapalhar, só que o público gostou e eu fui ficando nessa área. Até pra apresentar, o pessoal chegou e disse: “Vai lá” e eu tive que apresentar.


Foto: NaTelinha

NaTelinha - E onde você começou apresentando?

Sérgio Dionizío –
Eu fui repórter de Jota Ferreira (grande radialista e apresentador policial de Pernambuco) aqui na TV Jornal. Até numa tentativa de me afastar disso, eu saí da área. Quando o Jota Ferreira foi para a TV Tribuna (ex-afiliada da Record, hoje pertencente à Band), me chamaram pra ser repórter dele lá e eu fui. Quando Jota foi pra política, apareceu essa vaga e eles me empurraram, meio que sem falar nada. Criaram um novo programa, cenário e falaram: “Quem vai apresentar é você”. Deveria ser uma coisa temporária, mas deu certo, tanto em audiência, quanto em faturamento e a TV manteve o projeto.


NaTelinha - Foi o "Ronda Geral", não é isso?

Sergio Dionizío –
Exatamente, fiquei seis anos lá.


NaTelinha - E como foi a sua saída de lá? Você saiu pela “porta da frente”?

Sérgio Dionizío –
Pela porta da frente, graças a Deus. Eu só tenho boas lembranças da Tribuna, fiz muitos amigos. Ela me deu uma oportunidade muito boa, e embora eu já tivesse apresentado programa aqui na TV Jornal, na ausência de Jota Ferreira, uma vez por 15 dias e outra vez por um mês e até um programa de auditório, quando o apresentador ficou com um problema na garganta, eu apresentei por dois dias, mas foi na Tribuna que eu virei apresentador efetivamente.

Só saí de lá, porque a proposta pra voltar para a TV Jornal foi uma proposta muito bem construída, foi bem viável, tinha deixado muitos amigos aqui, até as pessoas da direção eram iguais. E eu posso te dizer que chorei muito quando saí, porque a gente tem que assinar a carta de demissão, né? E quando eu estava no RH, eu me segurei pra não chorar, mas não aguentei.


NaTelinha - Então, você veio para cá, porque o Cardinot (ex-apresentador do "Bronca Pesada", antigo programa policial da TV Jornal) foi para a TV Clube/Record. Sobre a concorrência, quem é mais seu concorrente: o "NE TV" da Globo ou o Cardinot na Clube/Record?

Sérgio Dionizío –
Olha, minha cabeça é tranquila em relação a isso. São espaços muito bem delimitados. O jornalismo policial, desde Alborghetti, ele é marcado pelo estilo de grito, um estilo agressivo.

Como te disse, eu não tinha escolhido o jornalismo policial, mas quando me empurraram pra fazer, o único aviso que eu fiz foi que eu não iria gritar ou ser agressivo. E eu sabia que poderia não dar certo, mas as empresas me falaram pra fazer assim mesmo.

Quando vim para a TV Jornal, eu avisei que ia ser diferente do programa de antes. E eles me disseram que era isso mesmo que eles queriam. No começo, teve gente que me disse pra ser mais agressivo e eu dizia que não ia fazer isso, porque existe o público que gosta disso e eu quero sem agressividade e a gente é um programa competitivo, líder comercialmente e aceito pela empresa, pelo público e pelo mercado.

Então, eu não vejo como competidor. Cardinot atende um tipo de público, o “Plantão 1-9-0” atende outro tipo de público e a Globo atende um outro tipo de público. Tem espaço pra todo mundo.


Foto: NaTelinha

NaTelinha - Eu notei que você lembra muito o Marcelo Rezende no “Cidade Alerta” que faz o programa em um estilo mais “light” e o Ratinho em outras épocas. Quais são suas referências como apresentador?

Sérgio Dionizío –
Na linguagem e na proximidade com o povão, classe C, D e E, a minha referência é Jota Ferreira. No senso de justiça, eu me inspiro muito em Gino César (renomado repórter policial de Pernambuco, considerado o melhor na área, mas que só faz rádio e jornal impresso). Gino sempre procura construir a visão dele de policia, independente da classe social da pessoa, sem dois pesos ou duas medidas.


NaTelinha – Voltando na questão do Ibope, como é que você é informado da audiência e como ela interfere na condução do programa? Já chegou a mudar a ordem de algumas matérias por causa da audiência?

Sérgio Dionizío –
Não, a gente não faz isso, porque se fosse se orientar só pelo Ibope, a gente ia ter que fazer concessões conceituais. Em primeiro lugar, está o conceito. Conceito de respeito com a família, de respeito às leis, de respeito com a sociedade como um todo.

É fácil você colocar cenas de sexo, cenas de violência gratuita, tudo isso dá muita audiência, mas se você é empresário, você tem um produto para anunciar, você vai querer ligar sua imagem, o seu produto, a uma coisa negativa? Você não vai.


NaTelinha - Sem falar que está no horário livre...

Sérgio Dionizío –
Exatamente. Até um colega nosso, ele vendo uma imagem na concorrência, ele disse: “Meu Deus, se o meu filho ou minha filha estivesse na sala comigo na hora que passou e fosse me perguntar o que era aquilo?”. A imagem era um casal, dentro d’água fazendo sexo. O que é que eu ia dizer? A gente não precisa disso, nós não somos um programa para satisfazer voyeur de sexo, nem de violência. E se pra isso, a gente tiver que abrir mão de ter mais audiência, a gente abre mão, mas não abrimos mão do conceito.


NaTelinha - Você acha que a concorrência apela?

Sérgio Dionizío –
Eu não posso dizer isso, porque não assisto, estou no ar, mas quem deve se preocupar com isso é o Ministério Público e as entidades da sociedade. Eu durmo com a minha consciência tranquila.


NaTelinha - Falando em Ministério Público, você já chegou a ter problemas com ele?

Sérgio Dionizío –
Nunca.


Foto: NaTelinha

NaTelinha - O Ministério Público, inclusive, queria reclassificar os programas policiais, mas tem aquela história de que programas locais não podem ser classificados.

Sérgio Dionizío –
Eu acho que a generalização é errada. Muitas vezes, só porque é programa policial, as pessoas pegam tudo e jogam dentro de um saco só. As pessoas tem que saber separar o joio do trigo. Existem novelas que praticam erros e outras que não praticam. Existem filmes de um tipo e filmes de outro. Existem programas policais de um tipo e existem de outro.

Tanto os críticos e até algumas entidades, eles precisam saber diferenciar um produto de outro e não generalizar, porque a generalização induz ao erro. Agora, eu me orgulho muito de nunca ter tido nenhum problema com o Ministério Público ou com Justiça, quando eu vejo o Ministério Público mais rigoroso eu até acho bom, porque eu sei que pra mim, pra gente, pro estilo que a TV Jornal faz, a gente não sofre nada.


NaTelinha - A gente contou quantos merchans você fez, e só hoje foram oito, isso significa que você vende bem. Como você lida com isso?

Sérgio Dionizío –
Hoje foram oito, mas tem dias que é mais. E o danado é que não cai a audiência por causa do número de merchans. A gente faz de uma forma suavizada que, às vezes, integra o conteúdo do programa. Em primeiro lugar, é uma coisa positiva, mostra a aprovação que o mercado tem, mostra que até antes de procurar saber a diferença de um ou dois pontos de audiência, o mercado tá preocupado em saber de resultados.

A gente dá resultado a quem anuncia na gente. Óbvio que o anunciante tem que correr depois pra atender a demanda, que é grande. Gera até uma certa dificuldade pra você montar o espelho do programa, mas é uma dificuldade necessária.


NaTelinha - Novamente sobre Ibope, como você acompanha os números de audiência durante o programa? A direção te informa?

Sérgio Dionizío –
Algumas vezes, sim, às vezes, não. Isso depende de quem está dirigindo o programa, porque sabe que não adianta falar: “Olha, isso aí tá subindo”. A gente vai falar o resto do programa daquilo ou vai ficar esticando o assunto? É bom saber, mesmo até com dias de atraso, é bom analisar atentamente como é que o público está reagindo sobre aquilo ali, mas não é só importante o número quantitativo e sim o qualitativo.

Então, a audiência que você tem na hora, ela não está dividida por classes sociais, nem nada, então a gente realmente não pode ficar feito doido mudando matéria. Se fosse um programa de quatro horas de duração, no final de semana, feito um programa de auditório, que tem quadros que são espelhados para ter cinco ou dez minutos, ai o índice instantâneo pode lhe orientar dizendo : “Olha, o quadro que teria 10 minutos, estende ele por meia hora”, isso dá pra fazer, mas um programa que tem uma hora de duração e que tem, algumas vezes, vinte assuntos diferentes pra falar, se a gente for se orientar por audiência instantânea, a gente fica doido.


NaTelinha - Qual sua motivação pra fazer programa policial?

Sérgio Dionizío –
Se eu não estiver fazendo programa policial, outra pessoa vai fazer. E, talvez, essa pessoa não dê o mesmo enfoque que eu e a minha equipe damos. Talvez ele até queria, mas não consiga dar. É uma responsabilidade muito grande você fazer policial, atender um público que, algumas vezes, quer ver a violência por ver e a gente tratar esse público e não dar só isso. Damos a oportunidade do público refletir sobre os motivos dessa violência toda, como combater e diminuí-la. Eu fico feliz em contribuir para uma forma diferente de ver polícia.


NaTelinha - Alguma cobertura lhe deixou mal em algum momento?

Sérgio Dionizío –
Muitas, principalmente envolvendo crianças muito novas. Morte de criança ou morte de adulto, mas a gente vê a criança por perto e a criança está sofrendo, me emociona muito. E aí eu tenho que me segurar pra não chorar na frente da câmera.


Foto: NaTelinha

NaTelinha - Como você avalia o sistema de classificação etária atual?

Sérgio Dionizío –
Não tenho muito conhecimento disso dos critérios, mas a única coisa que observo é que existe mais rigor para a violência da vida real do que para a violência da ficção.

Se não se deve mostrar um fato que aconteceu de verdade, que é notícia e que deveria ser mostrado, porque não podemos esconder a realidade, por que se permite que se tenha desenhos animados ou seriados para adolescentes com tanta violência? A criança cresce, achando que é normal dar tiro de laser, de revólver, tiro de todo o tipo. Acho que a classificação etária devia ser mais rigorosa nesse tipo de conteúdo.


NaTelinha - Como você se define como pessoa?

Sérgio Dionizío –
Como pessoa? Olha, difícil. Normalmente são as outras pessoas que definem (risos). Mas eu digo que a gente não é o que a gente diz que é, a gente não é o que os outros dizem que a gente é, a gente é o que a gente é e o que a gente faz. E eu procuro agir da forma que eu quero que as outras pessoas ajam comigo. Algumas vezes, as pessoas acham que o cara está sendo bobão ou abestalhado demais, o que eu discordo, porque eu estou tão bem na minha vida. E eu sempre fui assim e pretendo não mudar isso.


Obrigado ao Sistema Jornal do Commercio, a Sérgio Dionizío pela ótima conversa e a Diogo Cavalcante pela colaboração nas fotos e na entrevista.

Abraços e até o próximo “Documento NT”!

 

Colaborou o repórter convidado Diogo Cavalcante

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