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"Conversa com Bial" poderia aprender a arte do desbunde com o "Lady Night"


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Divulgação/TV Globo

Durante décadas o espectador encontrou este cenário familiar: caneca com seu conteúdo misterioso, a banda ao vivo, a plateia participativa, o sofá que recebia convidados para uma conversa informal. O chamado talk-show, gênero televisivo que nasceu e cresceu nos Estados Unidos desde o auge do rádio.

Do lado de cá, Jô Soares dominou o formato primeiro no SBT e depois na Globo, importado dos americanos nos mínimos detalhes. Com o fim melancólico do “Programa do Jô” em 2016, o gênero, em vez de minguar, explodiu em praticamente todas as emissoras. Desde o “The Noite” no SBT comandado por Danilo Gentili, passando pelo "Programa do Porchat" na RecordTV, até o “Adnight” de Marcelo Adnet na emissora dos Marinho. O terreno fértil dos talk-shows ganhou neste mês mais duas contribuições. “Lady Night” no Multishow e “Conversa com Bial” na Globo, apresentados respectivamente por Tatá Werneck e Pedro Bial.

O sofá, a plateia, a banda, todas as características essenciais do formato estão nessas empreitadas mais recentes, mas em especial o escracho e o diálogo com a atualidade. Elementos que Tatá Werneck domina em seu programa, à vontade enquanto conversa com atores e ex-BBBs ou faz indagações impertinentes no hilário “Pergunte ao Especialista”. Até mesmo o cenário brinca com os clichês do gênero, colocando peças de decorações cafonas em diversos pontos do estúdio que se pretende cosmopolita.

\"Conversa com Bial\" poderia aprender a arte do desbunde com o \"Lady Night\"

Herdeiros do humor anárquico que produziam na finada MTV, Adnet e Tatá se diferenciam agora pelo grau de intimidade mostrado com o formato nos quais se aventuraram. Mesmo que o Multishow pertença à Globo, a proposta do canal pago junto a um público mais jovem e menos propenso ao marketing da emissora carioca estimula o desbunde de sua apresentadora no “Lady Night”, ousadia que faltou ao “Adnight”: engessado, constrangido pela autopropaganda imposta nas entrevistas com os convidados do próprio Projac. No hiato de Adnet, que retornará no segundo semestre, o “Conversa com Bial” é a atual opção para o fim de noite desde terça-feira (02).

Menos comediante e mais investigador, condizente ao seu ofício de repórter, Pedro Bial padece de mal semelhante ao de Adnet. As suas entrevistas com convidados de prestígio (a ministra do Supremo, Carmen Lúcia, e Rita Lee) têm certa densidade e o verniz intelectual carimbado do apresentador, e ainda assim parecem reprimidas, cronometradas, sem novidades antes mesmo de irem ao ar.

\"Conversa com Bial\" poderia aprender a arte do desbunde com o \"Lady Night\"

A trilha sonora certinha e a reação pontual da plateia pioram tal impressão, confirmando que o gênero talk-show depende menos da vontade de trocar conversas e mais da habilidade em se deixar levar por estas conversas, aspecto que a Globo parece ainda não ter entendido.


Ariane Fabreti é colunista do NaTelinha. Formada em Publicidade e em Letras, adora TV desde que se conhece por gente. Escreve sobre o assunto há oito anos.

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