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Mara Maravilha no "Fofocalizando" reflete o conservadorismo da atualidade

Estação NT


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Reprodução

No universo de memes da internet, circulou, há alguns anos, um trecho do “Show Maravilha”, programa infantil apresentado por Mara Maravilha no SBT de 1987 a 1994. Brincando em uma gangorra no cenário, a apresentadora se diverte mandando saudações “para você que está na creche, no asilo, no orfanato, na penitenciária” e, em seguida, cai do brinquedo, mas se recompõe rapidamente para fazer merchandising de refrigerante.

Em 2016, a mesma Mara, mais velha, convertida à religião evangélica e afastada do público jovem, é escalada pelo mesmo padrinho da década de 80, Silvio Santos, para salvar o programa “Fofocando” (atual “Fofocalizando”) da emissora do Anhanguera, ao lado hoje de Leão Lobo, Décio Piccinini e Mama Bruschetta. Assim que assumiu o posto, Mara tem se sobressaído por, a cada notícia exibida no programa, destilar algum comentário venenoso ou alfinetar os próprios colegas de atração.

Este veneno não se encaixa naquele de costume entre os jornalistas especializados no mundo dos famosos, como os veteranos Leão Lobo, Bruschetta e Piccinini dominam. A ex-apresentadora ignora a sutileza ou o humor e dispara petardos a cada minuto de programa. Os seus alvos já miraram a forma física de Solange Almeida, ex-vocalista do grupo Aviões do Forró (e a da colega, Mama Bruschetta), a inseminação artificial que a cantora Neném fez com a companheira (“quem a criança vai chamar de mãe ou pai?”, perguntou Mara no ar), e a vítima mais recente foi a cantora Anitta, chamada de “corrimão”.

Os companheiros de estúdio, por sua vez, mal escondem o constrangimento quando a morena se aventura a opinar sobre fatos políticos. Uma das suas críticas foi para a suposta Bolsa-Família recebida por presidiários.

Do lado de cá da tela, a pergunta é inevitável: onde está a Mara que desejava, leve e descontraída, “um beijo para você que está na penitenciária”? Para começar, deve se considerar o talento de Silvio Santos para perceber o clima da época em que vivemos. Assim, a presença da ex-apresentadora do “Show Maravilha” em “Fofocalizando” assume um viés mais consciente, e por isto, mais assustador.

O dono do SBT detectou o ardente conservadorismo atual, que transborda nas redes sociais, nos protestos políticos e nos comentários dos portais de notícia, e fez de Mara sua caixa de ressonância. O preocupante é que tal conservadorismo, alimentado pela confusão entre política e religião e pela desilusão social, hoje comanda grande parte da audiência e dos anunciantes na TV. Aparentemente inofensivo e até fútil, “Fofocalizando” traz, em uma única apresentadora, o retrato de um Brasil furioso e perigoso.


Ariane Fabreti é colunista do NaTelinha. Formada em Publicidade e em Letras, adora TV desde que se conhece por gente. Escreve sobre o assunto há oito anos.

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