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TV aberta decepciona e Globo News rouba a cena na eleição de Donald Trump

Globo faz cobertura aquém das suas possibilidades ao longo da madrugada


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Donald Trump em seu discurso após ser eleito - Reprodução

A Globo mais uma vez preparou uma grande cobertura para a eleição norte-americana. Como nas disputas anteriores mais recentes, enviou dois de seus principais âncoras para Washington, em posição privilegiada diante da Casa Branca, que a partir de 20 de janeiro passará a ser ocupada por Donald Trump.

William Bonner e William Waack vêm desde segunda-feira (7) apresentando competentemente da capital dos Estados Unidos seus respectivos telejornais, o “JN” e o “JG”. Mas suas presenças serviram apenas para o pré e o pós-“jogo”. Quando “a bola rolava” na marcha da apuração, nada dos enviados de peso.

A cobertura ao vivo foi decepcionante. Ao contrário de 2012, as entradas a cada break com os números dos estados ficaram restritas para a madrugada, sendo apresentadas diretamente por Sandra Coutinho da redação de Nova York.

A confirmação derradeira da eleição de Trump para o cargo mais poderoso do mundo veio já dentro do “Hora 1”, que teve uma edição quase insossa, sem a dimensão do acontecimento.

Nos breves minutos entre a oficialização do republicano como presidente e seu primeiro discurso, pautas de menor apelo do noticiário nacional que poderiam aguardar pelo dia seguinte foram inseridas. Nos pouco mais de 60 minutos de edição, houve tempo até para uma matéria sobre a expectativa de vendas do comércio no final de ano.

E pior: para o público de outros fusos horários, toda a informação foi exibida com um atraso proporcional ao de sua grade. Enquanto o mundo repercutia a eleição de Trump, boa parte do país (todo o Nordeste e regiões do Norte e do Centro-Oeste) conferiam a série “Mentes Criminosas”. Só uma hora depois é que a gravação foi mostrada, sem nem mesmo uma breve interrupção anterior priorizando o fato de acordo com sua urgência.

O pouco caso surpreende por ser uma exceção em se tratando da Globo. Nos atentados terroristas ao Charlie Hebdo, por exemplo, um flash ao vivo do “Jornal Hoje” chegou a interromper a edição gravada dos estados “atrasados”. Tudo para destacar a informação. Mais recentemente, até o “É de Casa” teve exibição simultânea para o Brasil inteiro durante os funerais do ator Domingos Montagner.

Também foi uma surpresa, mas aí positiva, a boa atuação do SBT. O canal foi o único a exibir trechos do discurso do chefe de campanha de Hillary, que dispersou o público da democrata, e de Mike Pence, vice de Trump e primeiro a subir no palco da vitória.

Mas o destaque da noite foi a Globo News, com sua autointitulada maior edição da história do “Jornal das 10”, que foi ao ar das 22h até às 6h30, quase que integralmente dedicada ao fato que mobiliza o planeta nessa quarta (9).

Mesmo com o irritante delay nos links, a edição fluiu com uma conversa bastante interessante entre os envolvidos, tendo menos atropelos que a versão nacional da “Central das Eleições”. O bom nível foi mantido mesmo nos diversos confrontos de ideias entre os comentaristas Guga Chacra e Demétrio Magnoli.
 
Renata Lo Prete, que deixou a transmissão no meio, falou pouco, mas fez boas intervenções. E a Dony de Nuccio coube o papel de mediar a profusão de números e links, assim como se segurar para dar o resultado de forma institucional, apenas quando confirmado de fato por todas as projeções.

As risadas dadas durante a cobertura resumem o espírito positivo da longa jornada do canal de notícias.

Quem não estava com humor semelhante é Guilherme Portanova, apresentador do “Bom Dia DF”, que se irritou com o atraso de 11 minutos (de 90 de duração) do seu telejornal. Pouco depois das 6h, ele definiu como “quase boa tarde”.


O colunista Lucas Félix mostra um panorama desse surpreendente território que é a TV brasileira. Ele também edita o https://territoriodeideias.blogspot.com.br e está no Twitter (@lucasfelix)

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