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"Velho Chico" tirou atores, público e a TV brasileira da zona de conforto

Antenado


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Cenas emocionaram o público em seu último capítulo - Fotos: Reprodução

Ser diferente não é exatamente um problema. Muita gente confunde o diferente na televisão como redundância, como pretensão de algo que subestima o chamado "povão", a famigerada "classe C".

Ouvi muitas críticas em relação a esta chamada pretensão de "Velho Chico" desde o início de sua trajetória, em março deste ano. Que era uma novela dura, nada fácil de digerir. E o seu principal mérito é justamente este: ter mostrado que uma boa história pode ser bonita, com um texto muito apurado e uma direção fora de série.

A primeira fase de "Velho Chico", principalmente a semana inicial, foi ótima. Rodrigo Santoro, de volta à TV brasileira depois de algum tempo afastado, teve um papel à altura de seu talento. Além disso, outra que finalmente teve o seu talento explorado nesta fase foi Carol Castro, que também deu show.

Na segunda fase, uma pequena queda de rendimento nas transições de papeis. O estilo de atuação de Santoro era muito diferente de Antônio Fagundes. Muita gente não entendeu que a paráfrase de Fagundes todo caricato era para criticar justamente o jeito arcaico dos velhos coronéis.

É justamente nesta fase que se sobressai o diretor e os autores. Luiz Fernando Carvalho ofereceu mais uma vez uma direção diferenciada, com uma fotografia de cinema, que televisão nesta década nem havia chegado perto de ver. O texto sensível de Bruno Luperi Barbosa - ele sim, autor da novela com Benedito sendo o cara que só supervisionava tudo - aliado às imagens trouxeram algo fora da zona de conforto que o público se acostumou.

Falando nisso...

Não foi só o público que foi tirado da zona de conforto. Novos e velhos atores também. Falei de Antônio Fagundes, que começou meio estranho, mas se acertou na metade pro fim da novela, fazendo seu Afrânio um grande tipo.

Antes de acontecer o que aconteceu, Domingos Montagner nos brindava novamente com um grande papel, marcante na pele de Santo. Sensível e justo, foi um mocinho que não se tinha como não torcer.

Camila Pitanga teve sua redenção depois de uma composição péssima em "Babilônia". Tereza era forte, sincera, lutava pelo que queria... Uma mocinha fora das mocinhas bobocas que tivemos nos últimos tempos nas novelas.

Vale destacar mais dois atores que também se destacaram: Irandhir Santos e Lucy Alves. O primeiro fez o país se emocionar na última terça feira (27), e teve em seu Bento um tipo formidável, mostrando todo o seu talento já conhecido de quem acompanha mais de perto o cinema nacional.

A segunda foi uma grande, mas grande mesmo, revelação. Conhecida pelo seu talento de cantora revelado no "The Voice Brasil", Lucy Alves se mostrou uma atriz extremamente segura, intensa, forte, que foi uma antagonista perfeita. Não havia nome melhor.

Mariene de Castro, Marcos Palmeira, Marcelo Serrado, Christiane Torloni, Gabriel Leone, Giulia Buscacio, Selma Egrei, Dira Paes, Lee Taylor... Time de primeira.

Montagner e a força do elenco

Infelizmente, Domingos Montagner faleceu perto de finalizar o seu grande trabalho. Realmente fiquei preocupado, além de toda tragédia em si, de isso prejudicar o fim da novela, que vinha por um caminho cada vez melhor.

A câmera subjetiva, forma encontrada de fazer Santo continuar na novela, é ao mesmo tempo triste e linda. O protagonista continuava ali, vivendo, e não tinha homenagem melhor para o ator.

A força do elenco me impressionou muito. Principalmente diante de uma tragédia sem precedentes e que raramente acontece. Continuaram por Domingos, pela arte. Por tudo que envolvia a novela.

No último capítulo, não faltaram cenas lindas, bem feitas, emocionantes.

"Velho Chico" será mais lembrada, lógico, pelo falecimento de seu protagonista. Mas ela foi mais que isso. Provou que a TV nacional tem profissionais fantásticos e pode fazer produtos de qualidade ímpar. O potencial é enorme. "Velho Chico" não foi melhor, nem pior. Foi apenas diferente. E como foi bom ver essa diferença nesses 172 capítulos.

"Velho Chico" foi poesia em forma de novela. Foi uma trama não tão fácil de acompanhar, foi até difícil muitas vezes. Mas foi um prazer.

Adeus, "Velho Chico". Volte uma hora dessas. Vai ser legal tê-lo de volta.
 

Gabriel Vaquer escreve sobre mídia e televisão há vários anos. No NaTelinha, é responsável por reportagens variadas e especiais. Ainda assina as colunas "Antenado", sobre TV aberta, e "Eu Paguei pra Ver", sobre TV por assinatura. Converse com ele. E-mail: gabriel@natelinha.com.br / Twitter: @bielvaquer

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