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TVs falam sobre o impeachment sem repetir clima de festa contra Collor

Território da TV


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Fotos: Reprodução

Se os partidários de Dilma Rousseff (PT) bradam gritos de guerra contra a TV Globo nos últimos dias, é de se imaginar o que falavam os apoiadores de Fernando Collor há 24 anos.  No comparativo histórico, o tom atual pode ser considerado até frio diante dos acontecimentos.

No “Jornal Nacional”, por exemplo, quando a Câmara aprovou a admissibilidade do pedido contra Collor, a escalada foi aberta com Cid Moreira bradando sobre “uma terça-feira histórica”. E terminou dizendo que a “votação acabou em festa”.

Era uma fase que apenas precedia a feita na última quinta-feira (12), equivalente a que Dilma Rousseff foi submetida em 17 de abril, um domingo, quando não houve “JN”. Por isso a liberdade “poética” da coluna na comparação entre pontos distintos, apesar de essencialmente relevantes.

Dessa vez, após a menção da data, foi-se direto ao ponto: “os votos de 55 senadores aprovam a abertura do processo de impeachment”.

O encerramento foi aludindo aos próximos passos, com a inclusão do Supremo Tribunal Federal no rito.

Com Collor prestes a sair, Cid Moreira falou em tom editorial que o movimento tinha “inspiração na ética na vida pública brasileira”.

Com o afastamento consumado de Dilma, nada similar. Nos quase 70 minutos de duração, nem sinal de um clipe com imagens festivas ao som de “Alegria, Alegria”, de Caetano Veloso, como em 1992.

O tratamento agora tem sido protocolar e cuidadoso. Ao se destacar a atribuição de “presidente” para Michel Temer (PMDB), o complemento é certo: “em exercício”.

O cuidado é tamanho que de certo modo engessa a cobertura. A busca pela imparcialidade faz com que os telejornais se transformem meros reprodutores das falas de Temer, Dilma e companhia.

No caso do “Jornal Nacional”, contrariando expectativas, não foi acionada a trilha especial de dias históricas, posta em prática nas posses de Lula e Dilma, além de em outros momentos marcantes, como a morte do papa João Paulo II e o casamento do príncipe William.

E ao contrário de 24 anos atrás, quando Carlos Nascimento foi acionado como co-apresentador do “JN”, dessa vez nenhum repórter teve intervenções destacadas na edição quase monotemática (fora temas relacionados ao impeachment, houve espaço para ser noticiado apenas o revezamento da tocha olímpica).

O noticiário global é o mais visto (e visado), mas os outros telejornais também moderaram no tom. Nenhum dos principais da televisão brasileira enviou um dos seus apresentadores para Brasília. A exceção foi Clébio Cavagnolle pelo “Link Record News”.

Apenas o SBT encerrou seu noticiário na quinta de forma diferenciada, com um clipe de momentos marcantes da sessão no Senado. Para o “Jornal Nacional” e o “Jornal da Record”, as notícias que fecharam suas edições nem mesmo tiveram relação com os acontecimentos da capital federal.

Do “SBT Brasil” destaca-se também um excelente VT de Marcelo Torres com bastidores da vida do novo presidente. Do “JN” e do “JR” podem se tirar várias matérias dignas de menção. Eles coincidiram em focar em reportagens mais longas e detalhadas, seja sobre as trajetórias dos envolvidos, seja sobre os motivos e expectativas envoltos no dia.

O jornalístico da Record só não tem como se defender com sua “capa”, a escalada. Entre os destaques anunciados, um inacreditável “marido de cantora de axé é preso com 1 tonelada de maconha”. Mesclar essa notícia com fatos históricos soa como absoluto desprezo pela relevância do processo.

Globo e Band fazem o melhor serviço ao telespectador

Os canais citados nesse intertítulo foram os que se portaram de maneira mais completa ao longo do dia, com diversas interrupções e a exibição quase que integral de dois momentos-chave: o possível último discurso de Dilma e o primeiro de Temer como presidente.

A Record e a RedeTV! acompanharam de forma mais limitada a fala derradeira da petista, ignorada pelo SBT, que surpreendentemente exibiu do começo ao fim as palavras do novo governante.

A preferida dos novos ministros

Michel Temer, que em seus últimos dias como vice-presidente deu entrevistas exclusivas para Kennedy Alencar (SBT) e Gerson Camarotti (Globo News), que capturaram as imagens das conversas por celular, ainda não falou de forma exclusiva com nenhum canal após tomar posse no cargo, ainda que de maneira interina.

Dilma, em 2010, ainda na condição de eleita, falou com o “Jornal da Record” ao vivo menos de 24 horas após sua consagração nas urnas. Na mesma noite, depois da conversa com Ana Paula Padrão e Adriana Araújo, ela também foi aos estúdios da Globo em Brasília para participar do “Jornal Nacional”.

Do governo Temer, o marido de Marcela por enquanto vem falando apenas nos eventos oficiais. Mas seus ministros, tal como em governos anteriores, vem mostrando apreço pelo espaço global.

Henrique Meirelles, que comanda a Fazenda, foi sabatinado ao vivo no “Bom Dia Brasil” desta sexta (13). Já gravou também para o “Fantástico”. E Alexandre de Moraes, escolhido para a Justiça, também deu longa entrevista em matéria para o “JN”.  

O colunista Lucas Félix mostra um panorama desse surpreendente território que é a TV brasileira. Ele também edita o https://territoriodeideias.blogspot.com.br e está no Twitter (@lucasfelix)

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