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"Liberdade" quase consegue ser Game of Thrones, mas brasilianices não deixam

Estação NT


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Fotos: Divulgação/TV Globo

A realidade não faz mais sucesso, esse foi o veredito da audiência. O país que seria erguido com trabalho duro e baile funk esbarrou na crise e no impeachment, e a Globo, com um olho no Ibope e outro no gato, resgatou a teledramaturgia de época em várias faixas do seu horário nobre (“Êta, Mundo Bom”, “Velho Chico” e recentemente “Ligações Perigosas”).

Assim foi lançada nesta segunda-feira (11) a novela das 23h da emissora carioca, “Liberdade, Liberdade”, adaptada do livro “Joaquina, filha de Tiradentes”, escrito por Maria José de Queiroz nos anos 80, que traz uma versão romanceada da descendente do mártir, aqui protagonizada por Mel Maia quando criança e por Andréia Horta (de “Império” e da série “Alice” da HBO) na fase adulta.

Não só a proximidade do feriado de Tiradentes (21 de abril) é providencial para a estreia, mas também o momento político turbulento pelo qual passa o Brasil. “Liberdade, Liberdade” apresenta um período tão carregado de idealismos quanto de problemas.

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Em termos de produção, a novela traz o seu alto padrão de costume. Desta vez, provou que estudou quase obsessivamente as séries épicas americanas, suas maiores concorrentes na época do Torrent e da Netflix. Vila Rica é feia, suja e áspera, com suas prostitutas, escravos e ambulantes. Joaquina foge de casa para visitar o pai preso (vivido por Thiago Lacerda).

A cena do enforcamento, assistida pela menina, é mostrada sem metáforas, assim como os momentos de tortura da guarda imperial e a diversão do protagonista no bordel, remetendo a “Game of Thrones”, incluindo a saga de vingança de Joaquina. Ou seja, o público já se educou através do olhar gringo, então a Globo solta as rédeas. O realismo, em outras épocas, faz tudo ser permitido.

O enredo corre em marcha rápida, dispensando closes ou paisagens decorativas. Esta preferência pelas cenas encadeadas através da ação, em ritmo nervoso, é marca registrada do diretor Vinícius Coimbra, herdeiro do estilo câmera-na-mão de José Luiz Villamarim (“Avenida Brasil”, “Amores Roubados”). Aspecto positivo aliado ás atuações seguras de Matheus Solano, Letícia Sabatella e Lilia Cabral.

Este Tiradentes mais humano e menos heroico fica comprometido no texto de Mário Teixeira, autor da trama. As repetições de intenções que mais parecem máximas para que o telespectador decore (“a praça é do povo!”, “Brasil se libertará do jugo português”, “todos são livres”) jogam o personagem no raso.

A acusação frequente de que o futuro mártir “é um sonhador” também não ajuda. Tal detalhe faz relembrar que, embora siga os passos das produções épicas atuais, “Liberdade, Liberdade” não se livra do didatismo e da infantilização do público. Manias tão brasileiras quanto a bagunça política.

 

Ariane Fabreti é colunista do NaTelinha. Formada em Publicidade e em Letras, adora TV desde que se conhece por gente. Escreve sobre o assunto há sete anos.

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