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Nos 50 anos da Globo, "Babilônia" termina como um dos micos de 2015

Coluna "Enfoque NT" analisa a trajetória de "Babilônia" apontando os erros e pontos positivos da trama


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Fotos: Divulgação/ TV Globo
Chegou ao fim nesta sexta-feira (28) a novela Babilônia, repleta de incoerências, crises conceituais de personagens e ganhando o título, certamente, de um dos micos da Globo no ano de seu quinquagenário.
 
 
Vendida como uma novela pouco convencional com doses de realismo, “Babilônia” termina de maneira completamente diferente da que começou em todos os aspectos. Rumos da história foram alterados, fotografia mais leve e regeneração de personagens que ultrapassaram o limite do patético são alguns dos pontos. 
 
Sem sal
 
A protagonista Regina (Camila Pitanga), definitivamente, não convenceu. A heroína começou acima do tom, barraqueira e histérica. De algumas semanas para cá, simplesmente se transformou numa mulher fina e hostess de um restaurante instalado num antiquário, sendo badalada pela mídia carioca. 
 
 
Alguns capítulos atrás, os autores Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga brincaram com a inteligência do telespectador, como fizeram durante esses cinco meses de novela, numa situação em que ela podia colocar Beatriz (Glória Pires), que matou seu pai, na cadeia com um material comprometedor, mas sua exigência era apenas de que ela se afastasse de seu irmão, Diogo (Thiago Martins). Ou seja, ela preferia que ela ficasse solta, mas longe do seu irmão, a vê-la enjaulada vendo o sol nascer quadrado. 
 
Falta de um norte
 
Todo folhetim que se preze tem uma boa história pra contar, e “Babilônia” pecou por não explicar claramente qual queria contar. O ponto de partida era a dupla de vilãs Beatriz e Inês (Adriana Esteves), e os motivos para que a segunda buscasse incessantemente a derrocada da rival não convenceu.
 
A falta de uma boa história de amor foi primordial para o fracasso de “Babilônia”. Não houve um casal definido desde o começo. Houve pares se formando ao longo da trama, mas nenhum a ponto de ter a competência de carregar a novela.
 
 
Os autores acabaram por se perder diante de tantas histórias paralelas e até boas para desenvolverem, como a de Alice (Sophie Charlotte), que seria garota de programa agenciada por Murilo (Bruno Gagliasso), mas eles optaram por transformá-la numa mocinha comum, apaixonado por um homem rico, Evandro (Cássio Gabus Mendes).
 
Aliás, transformações bizarras não faltaram ao longo do folhetim, que teve Beatriz como a maior mutante de todas. De devoradoras de homens sem escrúpulos, encontrou em Diogo a sua fraqueza. Ainda cruel, mas apaixonada por um rapaz mais jovem capaz de deixá-la irreconhecível. Não colou.
 
Válvula de escape: humor
 
O humor parecia que não tomaria tanto espaço de “Babilônia”, mas embora a novela tenha cometido mais erros do que acertos na sua trajetória, temos que ressaltar os pontos positivos da trama.
 
O núcleo de Norberto (Marcos Veras) e Clóvis (Igor Angelkorte) garantiram um desafogo importante dentro da história com situações hilariantes (sem esquecer Juliana Alves como Valeska), e foi sem dúvida o ponto alto de “Babilônia”. Um universo paralelo.
 
 
Eles têm uma química bastante interessante, e o humor que falta em produções da Globo (“Zorra”, “Tomara que Caia”), sobra em um dos núcleos da novela mais fracassada da história do canal no horário das nove. Seria cômico se não fosse trágico. Ou trágico se não fosse cômico. Enfim.
 
Arlete Salles no papel da religiosa Consuelo também rendeu boas risadas com suas tiradas espontâneas e hipócritas, juntamente com Marcos Palmeira na pele do político mau caráter Aderbal, que embora tivesse seus deslizes, também teve seus bons momentos quando acionado no quesito humor. Essa dupla, por vezes, foi impagável.
 
O deboche do último capítulo
 
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O último capítulo foi repleto de humor (da pior espécie) e a esculhambação total da trama que já estava no limbo. Conseguiu piorar.
 
A sequência de Otávio (Herson Capri) tentando fazer todos de reféns, Aderbal na posse do Governo do Rio de Janeiro, a "burrice" de Inês ao "esconder" a escova na mesma cela que Beatriz e o embate das vilãs a beira do penhasco ultrapassaram o limite da bizarrice.
 
Definitivamente, os diálogos pobres, situações nonsense e a produção passaram longe de todo o padrão de qualidade da Globo. Muito longe. Aliás, se não houvesse a marca d'água da emissora ali no canto inferior direito da tela, ficaria difícil acreditar que ela é quem produziu tudo isso.
 
Toda a equipe de "Babilônia" parece que entregou um último capítulo de qualquer jeito com o intuito de se livrar desse abacaxi que tinha em mãos. Abacaxi este que ficou complicado de se descascar pela covardia e omissão dos autores. Final melancólico.
 
Trama espremida
 
Por ter três autores e um grande número de colaboradores, “Babilônia” não acreditou no potencial da história que tinha em mãos e cedeu à pressão externa. Faltou ousadia no desenvolvimento do que estavam contando, coerência e confiança no próprio taco. 
 
Devido a esse “time”, a história foi suprimida e perdeu identidade, personalidade, terminando irreconhecível e definitivamente, sendo um mico nesses 50 anos da Globo. “Babilônia” se despede sem deixar saudades, com uma sucessão de atropelos sem precedentes e rindo da cara de quem ainda insistia em acompanhar o folhetim.
 
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Que venha “A Regra do Jogo”.
 
 
Thiago Forato é jornalista, escreve sobre televisão há dez anos e assina a coluna Enfoque NT há quatro, além de matérias e reportagens especiais no NaTelinha. Converse com ele: thiagoforato@natelinha.com.br  |  Twitter: @tforatto
 
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